Não tente me entender
se nem a mim, eu mesmo faço sentido
Não tente, se poupe, se economize,
Sou repleto de contradições
Sou insano e imprevisível quando
abandono todas as minhas convicções
Sacralizo minhas profanidades
Vi-me velho, satisfeito e distante
Vislumbrei meu futuro numa alucinação
de uma noite de dores lancinantes
Prostraram-se de joelhos e se sentiram humilhados
No torpor só soube que não humilhei ninguém
Estava febril sem estar doente
Rosno e expulso para longe
os que nunca recuperam a compostura
Eu erro bastante e me recupero
Uma vez mergulhei em olhos hipnóticos
nunca soube se realmente voltei
A Existência é uma piada e tantos
de nós não possuem senso de humor
Engulo Galáxias no café da manhã
com os cereais e as frutas e o iogurte
Tudo isso me parece inevitável
Jogaram uma bomba no meu colo
e esperaram que eu explodisse
Ainda estou aqui, vocês notam?
Bebo meu café fumegante
Afasto para longe de mim, eu mesmo,
com todas aquelas velhas quinquilharias
Quem foi que disse que acumulador de restos
sempre esconde alguma poesia?
Talvez eu tenha me livrado de tudo
Talvez espero que se livrem de mim
Se você acha que eu me importo
provavelmente você está certo,
mas meus interesses não subsistem
Nada em mim é tão duradouro assim,
Exceto aquela velhas promessas
bem como todas as chaves que encontro
Um dia abrirei todas as portas,
apenas para escapar por uma janela
Como nos tempos da juventude
onde o meu único prazer era inovar
nos jeitos de fugir das aulas
Até hoje, de quando em quando,
pego-me em reflexões profundas
Do que é que eu tanto fugia?
Não tento me entender e por isso
espero que você não tente adivinhar
porque acelero quando tudo se acalma
Vocês buscam satisfação, desejo e sexo
Eu busco o rosto de minha alma
A satisfação, o desejo, o sexo,
isso tudo já busquei um dia também
Nessas tantas buscas por sabe se lá o quê,
eu, enfim, me percebi refém
Sem revólveres apontados para a minha cabeça
Apenas idólatras patéticos sussurrando
“Cresça, cresça, cresça”
Foi então que cresci,
mas quem ata altura ao tamanho
Quem se propõe a aventuras só pensando nos ganhos
Não sabe nada do que deveria saber
E mesmo eu, na dureza da lida, ainda me valho
de saber que não devemos ir tão longe assim
Cansei de tentar entendê-los
Por isso reforço o primeiro pedido
Não tente me entender
Homens dormem, morrem e nascem
Um dia nasci, hoje mesmo dormi,
sei que eventualmente vou morrer
Você tentou me perscrutar ontem,
Volte dois passos, amarre seus sapatos
Faça arames com os cadarços
E vá foder
Não tente me entender,
O saber é inútil
Os esforços são vãos
Sobreviver é a tarefa do fútil
Distraído por uma única canção
que fala sobre barcos e navegantes
Minhas costas doem e a minha nuca
prova que os meus limites são fracos
Quero ser a camisa que entorta o varal,
mas seco demasiadamente rápido e me torno leve
Flutuo pelas ruas como um floco de neve
Conheço um artesão culinário com cabelos cor de areia
Ele não tenta me entender
Observo uma mulher mística
que muda de aparência a cada nova manhã
Ela não tenta me entender
Eles são quem são e se bastam,
Eu sou quem eu sou e me basto,
ainda que em alguns dias eu queira ser outra pessoa
Raramente sinto que enxergo na visão dos outros
E vejo silhuetas fantasmas que dançam
Eu dançarei com você até o fim da próxima música
Fico por último para não deixar ninguém para trás
Ainda que eu não me importe com isso
de vida, morte, amor e sorte
A memória é um tesouro
Conheço-me o bastante para saber
Teria dinheiro sobrando se nunca tivesse
largado o antigo trabalho
Que vida medíocre e opulenta me esperaria?
Conheço-me o bastante para não conhecer
Entro e saio de dietas e quando rezo,
nas noites raras em que falo com o Criador,
peço até pelo bem daqueles que detesto,
Talvez nem o Criador tente me entender
Eu sou simples o bastante para não valer a pena
Complexo para não compensar o tempo de estudos
Quando o resto do mundo fala, eu me torno mudo
Não quero opinar sobre coisas que não sei
nem amar coisas que não amo
Quero descobrir o nome de minha alma
quando solto meu corpo no oceano
E volto salgado
Tudo muda o tempo todo
Os dias parecidos nunca são iguais
Alguns novos começos se parecem tanto
com os velhos finais
Cuidado com as assombrações
Cuidado com o sentir dos sentidos
Desejaram a minha morte por ser prolixo
Por mim, hoje, apenas hoje,
Espero que o mundo se esqueça de mim
Quero existir no limbo
Profano, sagrado, magro, mago, sozinho
Quero existir na noite infinita de outubro
quando o frio chegar, eu subo o edredom e me cubro
Não tenho tempo para o que não quero ter
Você não me verá agindo como um palhaço de circo
Nem beijando a boca de qualquer pessoa
apenas para fingir que eu sou parecido com vocês
Apenas para fingir que eu sou suficientemente legal
Que se fodam os atores, bem como eu já me fodi
Maldito dia que o Inferno se apossou do meu Paraíso
na amada casa da Rua Ipacaraí
Criaturas nascem, criaturas morrem,
mas eu não queria que ninguém se afogasse
Não, eu não queria nada mesmo disso
E ninguém pode me entender
Por favor, não admitirei tentativas
A taça de vinho chegou muito tarde
e eu vomitei muito cedo
Algo no meu peito ainda arde,
mas sei que não sinto mais medo
Eu cheguei muito tarde
e até hoje não consigo transbordar
Não tente me entender
Não tente me achar
Não tente
Não respire ou
apenas respire e revolva para o interno
que nunca aguentou tinta
Olho-me como um perito e como um estranho
O que existe no fundo de meus olhos castanhos?
Escrevo textos razoáveis
Outro dia desses me especializei
em sentimentos alheios e escrevi sobre os venezuelanos
Fui pago para isso e mereci o dinheiro
Os venezuelanos merecem o destino?
Esqueça a empatia e pense em sobrevivência
e então quando for forte o bastante
Poderá se debruçar em outros papéis
Não tente me entender,
embora eu talvez já tenha tentado
fazer isso por você
Não por amor, mas por algo sublime
pelo próximo verso na ponta da dor
Por qualquer coisa que rime
Por ser prolixo da cabeça aos pés
Não cruze os limites,
Sim, apesar das aparências e dessa loucura,
viver sem regras internas e preceitos
é cometer suicídio emocional e intelectual
Tente compreender, aceite a liberdade,
até por não ser algo que te convém,
mas não confunda liberdade com permissão
Podemos fazer tudo, mas não devemos
Você ainda está tentando me entender?
Bobagem, você foi longe demais por mim
Vire a página, eu nasci para ser e não para me explicar
Eu nasci para fazer e até hoje pude amar
Não tente me entender
Como você espera se aproximar de qualquer
entendimento sobre os outros se
ainda se apavora com a solidão?
Eu vou te explicar, mas você não vai entender
A solidão é sal
E rochas
E crustáceos
A solidão é um resto de lixo
na praia que ninguém nunca
se voluntariou a recolher
Como espera entender?
Preparei um café quente e chorei
Bebi o litro e meio que fiz
Nada aconteceu
Sem tremores
Sem amores
Sem sombras
Sem ilusões
Sem pensamentos
Sem corações
Sem coragem
Sem instinto
Sem selvageria
Sem demonstrações
Sem invernos
Sem infernos
Sem verões
Sem batidas na porta
Sem ligações
Sem tudo
porque tudo
é nada
Os dias acontecem
e nós todos acontecemos também
Não há prêmios e temporadas
Apenas dias amassados em cima de dias
Vidas como sonhos bons ou ruins
Esperanças e desilusões
Assim cada risada profunda
é um mergulho em água termais
Cada desejo compartilhado
é uma meta de vida que se cumpriu
ainda que essa meta seja simples
Ainda que se trate apenas sobre
comer pipoca no final da tarde de uma quarta-feira
Os atletas entram em campo para vencer
Nós acordamos porque precisamos acordar
Dormimos porque precisamos dormir
A natureza não pode ser vil,
pois mesmo os mais diferentes ainda são parecidos
Escarro no chão ao pensar que tenho algo em mim
semelhante aos meus piores inimigos
A natureza não pode ser vil,
mas os humanos podem
A razão superior não deve se sobrepor a razão inferior
As marés mudam conforme as fases da lua
Utiliza-se tudo para não defrontarmos o nada
Nascemos e corremos, embora não exista linha de chegada
Não tente se entender ou me entender
Inocentes morreram afogados
Vaidosos subiram em pedestais e aceitaram
atenção como um gesto de amor
O que já beberam para se mostrarem intocáveis?
Os narcisos não são melhores
Só se observam por mais tempo
Não tente me entender,
Anteontem eu me cansei de mim,
Exausto das minhas teorias e cálculos,
Enojado com meus planos de marketing,
Amanhã eu me renovo e recomeço
se porventura não me afogar em mim,
Eternidades se despedaçam,
Os heróis do povo me rechaçam,
E assim sei que estou no caminho certo
Nem são, nem santo
Nunca pouco,
Mesmo assim nem tanto
Amigo dos loucos
Repleto de encantos
Invisíveis
Não aceito que me digam quem sou
Como saberiam se nem eu sei?
Esqueço meus problemas
e durmo como um rei
Meu cachorro jaz perto de mim
Minha gata me cuida da sacada
Não há linha de chegada,
mas aprendi a amar a minha estrada
Não tente me entender,
Eu talvez seja tão banal como você,
mas meus crimes não são imperdoáveis
Ainda que o dano conte como dano
e nem tudo seja reparável
Amo quem merece o meu amor
Amo quem não merece também
Às vezes me vejo no Japão ou na Nova Zelândia
Às vezes me vejo ainda mais além
Interplanetário
Gatuno fugidio das sombras
Sombra fugida de ladrões
Cobri-me com um sobretudo e saí
para conhecer a Verdade
Tudo está em toda parte
e minhas partes se espalharam pela cidade
Não desejo que me procure, mas espero que me encontre
E assim saberemos que o Destino existe
Há coisas que vão e não voltam
Há o que existe e não aceita o abandono
Há melancias congeladas e bananas apodrecendo
Há cerveja, barulho, cachaça e água
Há o que existe e o que inventei
E penso às vezes que inventei tudo o que existe
Será que não criei todos vocês como minhas ficções
apenas para os dias em que o silêncio me incomodasse?
Será que vocês não fariam tudo o que eu pedisse
se eu chegasse mesmo a pedir?
Será que não os criei para que eu
tivesse como me impedir nas madrugadas de trevas?
Será que eu não existo desde o início das Eras?
Será que não estou sentado de pernas cruzas
em um trono ou afagando a mim,
eu mesmo, que não faço sentido,
num cafuné em meus próprios cabelos?
Às vezes me esqueço que minhas mãos
são realmente minhas e meus dedos finos
de pianista, nunca acharam seu instrumento
O vidro antes era areia
Eu antes era nada
Vim do deserto de Lugar Nenhum
Vide Noir
Esb Mub Sein
Frases, palavras, letras,
Água, fogo, planetas,
Pulei muros impossíveis
apenas porque quis
Beijei todos os animais
que encontrei pelo caminho
Sou um especialista em carinhos
Se me perguntam a razão disso tudo
Honestamente não sei responder
O vidro antes era areia
Posso ser pontiagudo também
Você não me entende, mas somos afiados
Capazes de ferir e sermos feridos
Eu me percebo distante e fútil
Quero tomar mais café e rezo
para que não tenha mais orações
Há desejos incomunicáveis e comunicações improváveis,
mas não há sequer um pensamento proibido
Os olhos são a janela da alma?
A minha alma precisa dos óculos e do vidro
Vocês talvez sejam mais estranhos do que eu
principalmente por tentarem me entender
O reflexo me agrada e me enoja
Pequenos progressos também me importam
Os espelhos pararam de quebrar em mim
Supostamente todo o meu azar se foi para sempre
Assim meus olhos correm
para a próxima cena
O tinteiro molha a ponta da pena
A minha loucura é um poema
da sanidade que nunca tive
Se amo objetos e insetos,
é claro que posso amar vocês
Não me oscilo tanto assim
Se nem eu me preciso,
quem é que vai precisar de mim?
Tatuei o meu corpo e me senti belo
Os trapezistas equilibram nas mãos
o peso exagerado deste mundo
Não podem nunca escorregar
Todos prendem a respiração
Ninguém me entende
Decido não aparar a barba
Pareço abandonado, mas não
Pareço embriagado, mas estou são
O time faz um gol e todos vibram
Estou buscando compreender
o que vocês todos se tornaram para mim
Estou buscando entender
que entender é inútil
Guardo inutilidades e cesso minhas buscas
Não, eu não tento descobrir ou saber
Queria que não se demorassem em tentar me entender
A dor dói quando dói e eu mesmo não faço sentido
Aconteço do avesso e às vezes sou feliz na tristeza,
Melancólico nos interlúdios de felicidade
Se acalme e tenha paciência
O tempo é um conceito
Eu não
Queria que chovesse hoje,
mas não aprendi a fazer chuva
Persisto seco, neste desterro,
neste caminho desértico de secura
Cautela com as mentiras que contam
Certas coisas sempre duram
Certas pessoas me dão a confiança
de sentir que posso fazer o que quiser
Assim, eu sinto que talvez não tenha
inventado tudo isso afinal
A vida e a morte não fazem sentido,
mas eu também não faço e sorrio
Sinto a brisa abafada em um início de tarde quente
E continuo sorrindo
Talvez eu não tenha inventado tudo
e isso me preenche de alívio
Não me entendo e continuo a sorrir
A ficção de meus pensamentos e atos
não forjou a probabilidade do que é real a mim
A Existência afasta os cálculos
E ainda que eu seja exato demais para ser humano,
sou exageradamente humano para ser exato,
Tudo bem, eu vejo que também falho
Posso querer coisas extravagantes
Posso querer coisas patéticas
Posso me tornar extravagante
Posso me tornar patético
Posso ser simples e incrível
Posso alcançar o impossível
e torná-lo possível, assim, meus pelos se eriçam
Sinto-me emocionado com uma estrela cadente
Seguro-a perto do meu coração
Tornamo-nos uma coisa só
Cadente, estrela, eu, fogo, areia
Uma peça única delicada como o vidro
Mobília singular no canto da casa
Criatura que voa sem ter asas
Os milagres existem e eu me emociono
Lágrimas salgadas escorrem dos meus olhos
Sinto o gosto do Mar e
da Alma na ponta da língua
Você desistiu de tentar me entender
acha que sou grandiloquente, mas pelas palavras
fica claro que cultuo tudo o que é frágil e pequeno
Talvez você tenha inventado tudo
O que sei é que eu não inventei nada
e tampouco me entendo.
Tag: rimas
Quebra-cabeça
Comecei a brincar
com minhas tantas frases
O inverso de um verso às vezes
Revela a essência de minhas fases
Continuei a brincar
com minhas notas trágicas
A tristeza do lado avesso
Revela uma faceta mágica
Soube que brincadeiras novas
começam na próxima quarta
Realize suas provas e
me mande uma carta
Quebra-cabeça
complicado e sem fim
Por favor não se esqueça
de não se esquecer de mim.
Discreto.
Inicio uma conversa franca
Defronte a uma imensidão branca
Sentindo uma enorme sede
A dor qual ela banca
Quando sozinha no quarto se tranca
E se atira contra a rede
Cogita desistir
Reluta em admitir
Não vê saída
Não sabe o que sentir
Esqueceu de como sorrir
Perdeu-se de sua vida
Escute-me hoje, por favor,
A face febril está em rubor
Tire o rosto da parede
A fase passa e também a dor
Recupera sua alegria e sua cor
A Tristeza têm olhos verdes
Aposto no que me aquece
Finjo crer nas minhas preces
Celebro minha existência
Príncipe que não se esquece
Demônio que se oferece
Anjo sem paciência
Abro um compartimento secreto
utilizando frases em outros dialetos
que encontrei em grimórios antigos
Concentro-me em pessoas e objetos
Sozinho sou e permaneço discreto
A infinitude de um caso perdido.
Metáfora
Muito bem, vou começar. Não, na verdade, nada bem aqui. Nada bem comigo. Como eu poderia falar dela e me sentir bem? Parece piada que eu tenha dito algo assim, mas vou tentar organizar as ideias na minha cabeça antes que elas pareçam mais ridículas do que em qualquer outra cabeça ou lugar. Esqueça isso também. É preciso me expor completamente e ser ridículo é só uma condição básica para o que acontecer a seguir se tornar crível, portanto, para que minhas palavras tenham a mínima credibilidade, eu vou dizê-las em voz alta diante do espelho. Prometi a metáfora, muito bem, mas não é como se eu fosse capaz de metaforizar alguém como ela. Alguém que sabe sorrir com os olhos e abrilhantar uma noite escura com apenas um vislumbre. Nela há promessas de coisas que o mundo nunca viu. Sei, sei bem o quanto isso é brega, mas o que perco que já não perdi antes? Embaralho-me em mim. Juro que meus próprios pensamentos voam em círculos contrários e se chocam e se misturam e se confundem… Eu não sei o que acontece depois. Eu sei que algumas mulheres já roubaram a minha voz quando pretendi dizer algo agradável ou suficientemente inteligente. Meus pensamentos, de repente, eram mais vagos do que uma folha de papel inteiramente em branco. O que ocorre, porém, é que com ela, as palavras nunca me fugiram. Elas bailavam na minha frente como se eu estivesse dentro de um mundo perfeito. Entende? É claro que não. Como alguém entenderia?
Vou supor que ela nunca leia este rascunho e me certificar, ao menos, mentalmente, que ela nunca escute isso quando eu falar. Engraçado que eu a vi apenas uma vez e foi quase uma década antes, mas não era como se eu me lembrasse. Será que foi desatenção minha ou será que a vi somente em sonhos e inventei tudo isso? Quando criança vivia absorto em mim, preocupado apenas com minhas fantasias. O tempo passou, mas eu não passei. Quando mulheres assim, olhavam-me, bem, eu corava e desviava os olhos. O irônico é que me tornei hoje alguém capaz de suster o olhar de volta e coincidentemente nos reconhecemos tantos anos depois.
Naquele dia eu já havia concluído que ela era absolutamente incrível e sua presença era calorosa e expansiva, ao que, qualquer pessoa gelada, seja por analogia ou por nascença, pode presumir e antecipar o degelo das próprias emoções. Sei que neste instante soo absolutamente imbecil, mas é impossível fazer isso e transmitir a mensagem sendo racional. Eu nunca perdi meus pensamentos na presença dela e meu coração, por incrível que pareça, torna-se cada vez mais e mais feliz conforme nos encontramos. É como se a cada novo encontro, eu pudesse captar um novo detalhe. Guardo esse romantismo infantil para os tempos em que se fizer necessário em minha velhice senil, mas, por favor, digo a mim, nunca se esqueça de nunca dizer isso a ela. Você sabe que ela merece ouvir algo que nunca disseram, mas seria como tentar acariciar um gato de rua. Os felinos são, por natureza, fugidios e ariscos. É preciso saber como manter alguém como ela por perto. Eu que sou bastante tolo e inadequado nas minhas adequações, eu me aproximo dela só quando minha mente termina de formular complexas equações. Como não afastá-la? Ainda assim não há matemática que baste, mas isso deveria me impedir de tentar? As estrelas são, por natureza, inalcançáveis, mas será que ela vai rir se eu disser que a gente precisa lutar pelo que sente? Seria vexatório tentar derrubar uma estrela com uma pedra apenas para torná-la cadente?
Desta forma garantiria meu pedido. Onde é que eu estava com a cabeça quando confessei que você era como uma metáfora aos meus sentidos?
O carnaval te vestiu bem. Não. Você vestiu bem o carnaval. Dentre todas aquelas pessoas, você parecia ser a única especial. Certamente brilhava de um jeito diferente. Cintilava de um jeito que fazia com que meus olhos não conseguissem permanecer completamente abertos. Você era o carnaval e o carnaval só era o que era por sua causa. Isso. Isso se aproxima um pouco do que eu gostaria de falar. Você realmente estava no carnaval naquela noite de lua? Talvez eu tenha apenas imaginado, mas me recordo do que preciso. Apoteose solar no tempo-espaço do seu sorriso. Eu me senti afundar em um oceano que sequer existia. Quais mistérios será que residem em seus beijos? Quais são as chances de que sumam de mim, sem que eu os mate, esses tantos desejos? E se eu te dissesse que diante da sua presença à época, ninguém se importaria com a fuga de Helena para Troia? E se eu dissesse que heróis e vilões não notaram a mais brilhante das joias? E se eu dissesse que o mestre Oscar Wilde se engana? E se eu dissesse que ele errou quando disse que a gente sempre destrói o que mais ama? E se eu forçasse o inglês nas minhas palavras e nós brincássemos de seek and hide? E se still in english fôssemos news Bonnie & Clyde? Tudo bem, não vou exagerar, não vou falar sobre Romeu ou Julieta, mas presumo que toda lagarta que a veja voar, em seguida, deseja logo se tornar uma incrível borboleta. Seria bom poder te acompanhar no seu mundo, voar junto, ainda que só de vez em quando. Duvido que… Não sei ainda se me faço entendido. Você entenderia se eu dissesse novamente que você é como o sol? Entenderia se dissesse que você seria minha Sophie se eu fosse o mago Howl? Vou tentar, enfim, pela última vez. Eis a situação… Você percorreu atalhos até o meu coração. Sempre que eu a vejo, indago se sou eu o meu próprio algoz. Poeta que perde a rima pelo desejo; homem falante que perde a voz. Noutra noite de carnaval me cedeu brilho, pois o sol não se preocupa em se dividir. Como um trem desgovernado descarrilho toda vez que a observo sorrir. Você é mais vasta que a imensidão do céu azul. Dona de si sempre se basta: it’s all about you. Perdi a metáfora e a fala… Perdi meu rumo e tudo o que almejo. Quando a loucura sobe, a boca cala. Lamento que nunca com o gosto do seu beijo. Sei que novamente esmurro pontas de facas, mas o que posso fazer? É melhor ser ridículo e falar do que dormir sem ter dito o que pensei em dizer. L’amour est un chien du diable, mais c’est mieux être mordu! Acho que concordo com o trecho acima referido. O amor é um cão dos diabos, mas eu prefiro ser mordido.
Essa foi a loucura mais brega que eu já disse na minha vida.
Você me pediu a sua metáfora. Espero que não esteja arrependida.
Novamente surto. Sussurro que amo vultos, embora saiba que são apenas sombras pálidas de coisas inexistentes. Amo, na verdade, a palidez da alma de quem não tenta ser mais do que sente. Amo ainda que meu amor seja criação de minha própria mente. É duro vagar solitário em mundo que se faz quase sempre indiferente.