Estava meio trôpego, instável, qualquer um poderia notar. Um instante era o bastante para se lembrar do que houve antes e simplesmente deitar e chorar. Se choro, pergunto-me, a razão das lágrimas. Se me demoro, é por entender tanto de lástimas. Se ainda estou parado há de ser por não ter virado a página.
Qual máquina metafórica reside dentro de mim? Que é que me traz ao paladar este gosto de fim? Deve existir um parafuso solto, uma engrenagem torta ou qualquer funcionalidade mecânica quebradiça. É que às vezes vou seguir e sinto que volto, algo me corta e os meus pelos se eriçam. Estático, prostro-me feito bicho selvagem. Enfático, aguento o peso da abordagem. Crescido como sou, eu nunca sou quem agride, mas a vida me tornou alguém pronto para o revide.
Batalha de egos travada no vale do fim do mundo. O sujeito está equivocado, porém, faz da falsa razão o seu escudo. Como se mede o alcance do orgulho? Provou seu ponto, mas perdeu a argumentação, como se não fosse o suficiente, foi em frente e promoveu a retaliação.
Copiosa marcha para o mistério da morte no vale das sombras. Afrontosa arrogância em baixa, vitupério proferido por esporte, é melhor que se cale nas caminhadas longas. Que tenho tão insistente que tanto me incomoda se não tomo boas ações? Que espécie de regente me vejo nos reinos dos sonhos translúcidos repletos de emoções?
Há pessoas no deserto. Não sou mais esperto que elas. Há pessoas congelando de frio sem cama, teto ou janelas. Não sou mais miserável que elas também. Há pessoas sendo assassinadas. Quanto é que me perseguem? Certamente jamais me atacaram por causa da minha cor de pele.
Shakespeare acreditava que o problema dos homens era a inconstância. A minha aposta é que o cerne das catástrofes seja a arrogância. Fosse eu mais feliz em sonhos, abandonaria o plano físico para dormir e hibernaria durante o inverno. Seguissem os dias enfadonhos e após a invernia transformaria meu descanso temporário em eterno.
Cansaço de fim de mundo. Sorri, embora meu coração chorasse, antevendo a minha despedida de tudo. Vejo-me de fora, revolvo para dentro. A vida é agora, embora, quase todos se percam do presente momento.