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Dr.Poesia

por Daniel Rosa Possari

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Tag: solitude

Solidão.

Solidão.

A solidão não precisa ser comentada
As frestas da janela estão abertas e não venta
O halter está no chão e eu não malho
Os trapezistas em algum circo ou espetáculo
arriscam suas manobras mais perigosas
A solidão me empurra para perto do risco
O sono felino é avesso ao instinto veloz e arisco
A solidão não precisa ser comentada
Ainda assim ouvi vozes pelos cantos da casa
E isso tudo antes da metade da madrugada
Se existe uma divindade que me inventou
Eu me pergunto a razão de ter me feito sensível
Eu apenas desejo ser inteligente
Sofro as dores de um mundo impossível
A solidão não precisa ser comentada
Leões espaciais rugem sua coragem
Caminhões engolem o escuro sombrio
Há tanta gente que reze por dias quentes
E eu anseio pelo retorno do frio

Sinto o cheiro saudosista do mar e sonho
Capto a sensação da areia entre meus dedos
Escuto o quebrar das ondas e o som do riso
A canção anuncia o inferno no paraíso
Acordo em minha cama consciente
de que um dia não terei o luxo de acordar
A solidão não precisa ser comentada
Eu enchi o copo de água e não bebi até o final
Eu não matei a formiga que me picaria
Gastei minhas palavras, mas não minha energia
Eu precisava dormir, mas seguia acordado
Eu precisava sentir o peso do fardo
As horas tardias não me assustam mais
A televisão ligada é mero costume
A felicidade não me satisfaz
Sou um insignificante vaga-lume
Piscando na noite vulgar
Guiado por diversos perfumes
A solidão não precisa ser comentada
Os livros seguiam intocados e empoeirados
As corujas crocitavam os mistérios da floresta
As baleias saltavam acrobaticamente
embora fossem exageradamente grandes
Sustentavam o lembrete de que
o peso e a leveza podem coexistir
A solidão não precisa ser comentada
Todas aquelas dívidas, enfim, foram pagas
Os filhos que terei ainda não nasceram
A morte que morrerei ainda tarda
Parece que teremos problemas
Parece que teremos que recomeçar
Não se torne como essas centenas
que se esforçam para dissimular o zelo
Não se torne como estes que apenas
são escravos dos próprios erros
A solidão não precisa ser comentada

As lembranças não precisam do esquecimento
Seu nome é o sinônimo da vida
que acontece a todo momento
Tudo parece irregular e me recordo
dos trapezistas saltando pelos abismos
Salvando uns aos outros pela firmeza das mãos
Minhas mãos me orgulham e batem nessas teclas
Só os povos tolos desprezam o valor de seus poetas
Só os imbecis não compreendem a necessidade da solidão
Insisto que a solidão não precisa mesmo ser comentada
Ainda que ela precise de esforços concentrados para ser usufruída
As frestas da janela agora estão fechadas e venta lá fora
Escuto o vendaval bater na janela como se fosse um espírito
Assovia como se fosse uma amante esquecida
Pela casa ecoam vozes recentes e antigas
Vejo que ninguém fala e a boca que não cala é a minha
O halter está no colchão e eu malho
Desisto do vento natural e opto pelo ar-condicionado
Os trapezistas se arriscam por aí em seus espetáculos
Confiam sempre nas mãos uns dos outros
Não sabem o peso da responsabilidade da solidão,
ainda que saibam reconhecer um valoroso coração

Continuei acordado com a impressão de que não dormiria
Continuei a sacrificar tudo o que eu podia
Antecipei a solidão que amanhã sentiria
Aprecio estar sozinho, porém a língua ressalta
Estou no melhor caminho, mas sentirei sua falta
A solidão não precisa ser comentada,
mas eu comentei e narrei toda a minha
A alma distraída se alimentava
de tudo o que o resto do mundo me oferecia.



Publicado em 13 de outubro de 2020Categorias PoemasTags autoral, casa, comentário, drpoesia, drpoetry, drpossari, madrugada, monólogo, percepção, poema, Poemas, poemasbrasileiros, poesia, Poesias, poetasbrasileiros, solidão, solilóquio, solitude, textoautoralDeixe um comentário em Solidão.
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