Meu coração não é meu,
embora me pertença desde que nasci
Quando estreei no mundo
já tinha uma identidade estética
O meu rosto aprendi a conhecer porque
crescemos todos cercados por espelhos e reflexos,
Entretanto, busco ainda a face original da alma que tenho
Só quem se desvê realmente se conhece um pouco
É preciso mergulhar fundo para deixar de ser oco
Sou um inútil e me chamam de idiota por acreditar
Eles não sabem que todos somos idiotas, acreditando ou não
Suspiro, deito na pedra e fito o céu sem usar fitas
Analiso a forma de uma nuvem branca
Ela dança e se divide até se dissipar
Existe nuvem que quer chover
como se quisesse chorar
Existe nuvem que vai desaparecer
depois de tanto dançar
Os físicos explicarão o fenômeno segundo suas Leis
Só que não há muitos fisicistas que bailem
Fecho os olhos e enxergo novas coisas
Tudo o que saiu da minha cabeça é meu
Amo os espaços vazios e sou incompreendido
Quando me observavam, ainda criança,
vagando e divagando pelo quintal
sempre se perguntavam: – Que será que está fazendo?
Eu apenas fazia, entendendo-me menos ainda
O que acontece dentro do peito é estreito
Confesso que nunca me soube tão bem
Queria ser convicto de tudo, entretanto, emudeço
Será que os desajustados vão além?
Sou uma espécie de confusão acumulada
prestes a irromper em uma certeza
Se soubesse qual parafuso me falta
eu mesmo me martelava até me consertar
Só que sinto que sei quando algo está com defeito
Reconheço tudo que está quebrado
Eu só estou do meu jeito
E tudo o que não surgiu
da minha mente é estrangeiro,
mas não necessariamente mentira
A única verdade que creio é que o mundo gira
Meu coração não é meu,
embora me pertença desde que nasci
Sou eu tudo o que vi
Sou eu tudo o que vivi
Sou eu ainda tudo o que não sei
Sou eu, enfim,
tudo o que nunca saberei
Este coração que não é meu desaparecerá
no dia que o meu corpo se decompor
Sou inútil a ponto de acreditar, que mesmo morto,
sobreviverão os meus versos de amor.