No antepenúltimo dia de outono
Sonhei que reinava esse mundo perdido
E mesmo confortável em meu opulento trono
Aquele eterno estado de sono
Não me fazia mais esclarecido
Mandava e desmandava
Tendo a humanidade sob meus pés
Nada na vida, porém, encantava
E sentia falta de navegar em altas marés
Minha inocência partiu com o último raio
Daquele céu ensolarado e gelado no fim de maio
Quado ainda distinguia as cores das tantas flores
No âmago oculto recusava a inevitável morte
No brilho dos olhos cintilava a minha sorte
Ao me deparar com a finitude de todos os amores
E me considerava privilegiado por saber
A gente nem sempre destrói o que mais ama
A única morte é esquecer
Por isso me forço nas eternas lembranças
Até mesmo das partes mais desconfortáveis
O que ainda me traz esperança
São as memórias de quando criança
Minhas preciosas coisas frágeis
Intuía que a vida era pelo risco
E meus pelos se eriçavam quando em desvantagem
A sociedade me fez amedrontado e arisco
Prevaleci com a minha alma selvagem
Ainda assim tiritava e me encolhia
Toda vez que o mundo se tornava escuro
Algo distante no meu peito doía
Será que um dia dormiria seguro?
Quem tem uma estrela no lugar do coração
Ainda há de perceber
Representa sozinho uma constelação
E o breu não deve temer
Levanta-se, filho, já vai começar
outra partida do seu time de futebol
Levanta-se, meu menino, é preciso lutar,
Você é poderoso como o mago Howl
Ergue e brilha, escreve teu destino
Você é tão quente quanto o próprio sol
Abdica do cetro e da coroa
Abandona a ilusão constante do paraíso
Todo sapo vive bem na lagoa
Felicidade é o próximo sorriso
Eu sei sobre o seu cansaço
Você está em diversos pedaços
Se entrega ao meu abraço e esquece esse aperto
Compartilha comigo esse tempo-espaço
Celebra este novo e firme laço
Você ainda tem conserto.
